Depois da aclamada serie dos anos 90, Sabrina retorna na Netflix num reboot com uma pegada mais sobrenatural o que acaba funcionando já que se aproxima mais dos quadrinhos da Archie Comics. Sabrina Spellman é uma menina diferente das outras, pois ela é metade bruxa e metade mortal (seu pai era um bruxo, já sua mãe era mortal), e no seu aniversário de 16 anos ela passará por uma espécie de batismo, que é uma espécie de devoção ao “Senhor das Trevas” e para isso terá que deixar sua vida mortal para trás (como escola, amigos e o namorado), deixando a personagem num conflito durante toda a temporada.
O conflito da protagonista é muito bem desenvolvido durante os dez episódios, dessa primeira temporada onde conseguimos ver o “Melhor dos dois mundos” (Miley Cyrus pegou essa referência rsrs) e o roteiro se aprofunda muito bem nesses dois universos, nós mostrando os prós e contras de ser uma bruxa e uma mortal, talvez faltou explorar um pouco mais a Academia de Artes Ocultas pois não acompanhamos muito as aulas de poções e feitiços de Sabrina.
A temática sombria funciona muito bem nessa nova versão, pois se encaixa no mundo em que a Sabrina habita como: Bruxas, Demônios, Livro da Besta, Rituais entre outros. Tudo se encaixa no roteiro sem nada parecer forçado, portanto mais cedo ou mais tarde os elementos vão se interligando dentro da narrativa, deixando a serie como uma experiência divertida, onde os 10 episódios passam voando sendo uma ótima sugestão para maratonar. Entretanto a narrativa se sustenta ao longo de toda a temporada sem as tradicionais “Barrigas” (período em que a história não anda e os defeitos acabam mais evidentes do que as qualidades)
A fotografia chama muita atenção ao conseguir captar as nuances do cenário e dos personagens, por meio das cores, do enquadramento ,da textura e do tom dado as cenas, repare no efeito meio “borrado” e como ele se encaixa na narrativa, o figurino também se destaca, desde as roupas “comuns” dos mortais até as extravagâncias do mundo das trevas.
Como estamos vivendo em uma era em que o feminismo é um dos movimentos sociais mais fortes, ter uma protagonista que ao mesmo tempo é decidida, forte, corajosa e empenhada em ajudar aqueles que ela ama, mas sofre com a irresponsabilidades dos seus atos,acaba criando uma identificação com o público, além do carisma de Kiernan Shipka cuja semelhança com Emma Watson impressiona, mas consegue injetar toda a força e fraquezas da personagem na sua interpretação, criando uma figura que consegue carregar bem o posto de protagonistas, mas o roteiro acerta em focar nós personagens coadjuvantes que cercam Sabrina, onde cada um ganha seu momento de agir, porém nem todos são muito bem aproveitados como a Madame Satã e o Padre Blackwood pois o roteiro falha ao tentar criar duas figuras maquiavélicas o que no final acaba resultando em dois personagens vazios e sem profundidade.
Além de Sabrina, os roteiristas criam outras personagens femininas interessantes como Roz e Susie que há princípio sofrem com aquele típico clichê das “amigas mortais”, mas aos poucos elas ganham peso e importância para a história central, o mesmo podemos dizer da Tia Zelda (Miranda Otto) e da Tia Hilda (Lucy Davis) que ajudam a protagonista na sua jornada, só que o roteiro não as deixam como “muleta” para desenvolver a protagonista, muito pelo contrário elas ganham desenvolvimento e camadas, tornando-as humanas. Outro membro da família Spellman que ganha um bom tratamento do roteiro é Ambrose, primo de Sabrina mas serve como conselheiro da protagonista, alertando-a das consequências dos seus atos, ao mesmo tempo que ele ganha um arco interessante de se acompanhar.
O romance principal entre Havrey e Sabrina funciona pelo roteiro não os tratarem como a maioria dos casais de séries teen e muito disso se deve pela química entre Kiernan Shipka e Ross Lynch , o segundo surpreende por mostrar que não é só um ex- astro da Disney, dando uma interpretação convincente ao passar todas as dores e angustias que o personagem sofre principalmente nós episódios finais. O único ponto em que a série dos anos 90 ganha desse reboot é no gato Salém, pois nessa nova versão o animal não fala e sua importância acaba sendo reduzida.
O mundo sombrio de Sabrina, funciona como uma porta de entrada para esse universo sombrio, diferente da sua prima Riverdale e entrega uma temporada divertida, charmosa e com uma protagonista cativante e carismática, e o final lhe deixa ansioso para o segundo ano.
Nota: 4/5.